Pelas lentes de João Andrade

“Kant na mesa ao lado”

Arquivo pessoal

Nestes últimos 30 anos em especial, é notório o espaço ampliado que o modelo biotecnocientifico ocupou na assistência à saúde. E não pretendemos malograr as muitas vidas salvas pelo incremento da técnica na resolução de doenças. O conhecimento científico que legitima o homem em sua racionalidade, em seu esperado compromisso com uma sociedade melhor, onde a saúde é um direito e um dever do Estado; e mais do isso, uma legitimação de que estamos, de fato, ocupados em assegurar justiça social. Esta, muito além dos aspectos normativos, mas parte da construção da moralidade em nossas percepções intuitivas do florescimento humano. E, se aquele paradigma da incorporação tecnológica é inevitável, também urge nos ocuparmos de sua validação ética. Enquanto a Inteligência Artificial (IA) vem para aperfeiçoar e/ou substituir a função de profissionais de saúde em muitas das suas atribuições, é imperioso que pensemos sua função no processo de adoecimento e cura. A negação das subjetividades e da doença como construção social será um erro imenso. O quanto a IA será capaz de dar conta destes aspectos?

Nosso delírio de imortalidade não pode se superpor a percepção da condição humana. Nossos devaneios necessitam estar contemplados com a ponderação de valor. Definir VALOR na contemporaneidade é tão instigante quanto a perspectiva do mundo que estamos construindo. Kant certamente nos repetiria a questão: o que devemos fazer? O que nos é permitido esperar? Há muitas reflexões doravante, muitas urgentes, incluindo a percepção moral destes supostos avanços da ciência.

João Andrade Sales

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