Sexta-Feira Santa foi um dia especial. Quatro dias depois, dia de São Jorge, também. Nesses dias, três famílias ajudaram à medicina realizar sua missão: fazer o bem.
Na sexta-feira, renasceu um menino. Ele chegou a este mundo há 25 anos, quatro dias após o Natal, num hospital público do Rio de Janeiro, Hospital Alberto Schweitzer, situado em Realengo, subúrbio carioca de tantas histórias.
O nome desse hospital homenageia o teólogo alemão, pastor, construtor de órgãos e um dos melhores intérpretes de Bach, que, após se formar em medicina, partiu para o Gabão, onde cuidou dos africanos das colônias francesas, órfãos de cuidados e assistência médica, o que lhe deu o Prêmio Nobel da Paz em 1952. Lá morreu em 1965, aos 90 anos de idade.
Esse “pequeno-guerreiro” foi deixado num orfanato e lá recebeu o nome de “Estrela da Manhã”, no idioma tupi-guarani. A lenda sobre seu nome diz que ele visitava a terra uma vez por ano para ensinar o povo carajá a cultivar mandioca e reivindicar seus direitos, como o acesso à saúde.
Aos seis meses de idade ganhou uma mãe adotiva, uma irmã e avós. Aos 13 anos foi diagnosticado com uma grave doença intestinal auto-imune, de difícil controle com medicamentos, e aos 23 anos foi submetido à retirada de todo seu intestino grosso.
Estudante de direito, foi obrigado a interromper seu curso devido a inúmeras internações pela doença, mas nada que lhe tirou o espírito brincalhão, mesmo quando soube que estava com um tipo especial de cirrose, decorrente da doença auto-imune, cujo tratamento mais eficaz é o transplante hepático. Seu clínico e amigo lhe explicou que a fila do transplante de órgãos para doadores não aparentados é única e segue critérios da gravidade do receptor – quanto mais grave o paciente, mais inicial fica o seu lugar na fila. A espera poderia ser longa, mas o altruísmo de uma família doando o fígado de um amado, vítima de morte cerebral, permitiu o transplante. Seu novo fígado veio do mesmo Hospital Alberto Schweitzer, onde havia nascido. Teria agora uma nova chance. Um renascer.
Quatro dias depois, outra feliz história. No Dia de São Jorge, a espada do Santo Guerreiro foi oferecida a outra equipe de especialistas. Esses desbravadores e criadores de esperança romperam a ortodoxia ao retirar a metade do fígado de um filho para substituir o do seu pai, comprometido por um câncer metastático. Apesar de já ter sido operado duas vezes e submetido a inúmeros esquemas de quimioterapia, as metástases hepáticas continuavam como a principal ameaça a sua vida. Um feito audacioso, ainda experimental e envolto de sangue, suor e lágrimas dos que buscam adiar a terminalidade.
Histórias vividas entre dias santos, em diferentes hospitais, público e privados, demonstram o poder do altruísmo, do amor e da inquietude da medicina, nesta cidade maravilhosa, na qual a paz aguarda um espaço.
Que felicidade ser médico e poder doar esperança!
Alfredo Guarischi
- Texto originalmente publicado no jornal O Globo – edição de 7 de maio de 2019.
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