A afirmação “informação é poder”, atribuída a Francis Bacon (1561-1626), a cada dia mostra-se mais poderosa. A imprensa tradicional, que consolidou a informação nos últimos cinco séculos, vem perdendo espaço, ou se perdendo no espaço.
Isso é ruim, mas a vida é assim. “Nada se cria, tudo se transforma”, falou o Pai da Química Antoine Lavoisier (1743-1794), que morreu guilhotinado, pois a sociedade francesa se transformou. Uma derrota para a humanidade, a fraternidade e a liberdade.
John Troan (1919-2018), jornalista científico, em 1960, na revista Science, defendia a necessidade da ampla participação da sociedade no debate científico. Alertava para a importância que os meios de comunicação de massa – jornais, revistas, rádio e televisão – têm, mas muitas vezes não era percebida pelos cientistas. Ele também previu que muitos empresários da mídia e editores não estariam indo tão bem quanto acreditavam.
A censura e o poder econômico dificultam a criação e o compartilhamento de espaços. A censura, nefasta e mutante criação humana, é fruto da análise do que o censor (ou centro de influência) entende como informação inconveniente. O poder econômico age ao financiar seletivamente os meios de comunicação. Ambos atuam distorcendo a verdade, usando uma linguagem duvidosa ou fora do contexto. Como afirmou Alfred Adler (1870-1937), “Uma mentira não teria sentido a menos que a verdade fosse considerada perigosa”.
David Phillips alertava, em 1991, que a cobertura de pesquisas médicas pela mídia popular influenciaria na percepção do valor de alguns trabalhos científicos para os próprios cientistas. Incrível!
Mas por que razão?
Tenho uma hipótese, baseada em fatos ocorridos com os editores-chefes das três mais importantes revistas médicas do mundo.
Em 1999, George Lundberg, após 17 anos como editor-chefe do Journal of American Medical Association, foi demitido por permitir a publicação de um artigo científico considerado como tendo viés político. Lundberg continua ativo, pouco se sabendo de seus detratores.
Sete meses depois, Jerome Kassirer, editor-chefe do New England Journal of Medicine (NEJM), foi demitido por discordar do uso do nome do jornal associado a outros “produtos” da Sociedade Médica de Massachusetts, proprietária da NEJM. Sua substituta e assistente por muitos anos, Marcia Angell, ficou pouco tempo no cargo.
Ambos continuam ativos.
A truculenta demissão de Kassirer foi criticada por John Hoey, editor-chefe do Canadian Medical Association Journal (CMAJ), lembrando que é ingênuo pensar que a investigação científica está livre de fatores econômicos e políticos. Qualquer editor digno, que conhece o significado de liberdade editorial, protege os escritores em sua luta para atender primeiro às necessidades dos leitores e do público.
Em 2006, chegou a vez de John Hoey e sua assistente, Anne Todkill, serem demitidos, com alegação de “renovação”. O real motivo foi a exigência que a linha editorial se subordinasse as diretrizes da Associação Médica Canadense, proprietária do CMAJ.
As revistas médicas devem ser lucrativas – ou pelo menos equilibradas. Os editores sabem disso e buscam publicar os mais relevantes trabalhos científicos genuinamente úteis aos leitores, mesmo que pessoalmente discordem das teses enviadas ao corpo editorial. Qualquer empreendimento intelectual honesto deve seguir a premissa de que a excelência científica é uma garantia de números de circulação saudáveis.
Quando a publicação é um mero produto comercial, sua credibilidade científica é abalada. Patrocinadores truculentos criam pressões, interferindo nas decisões editoriais que não se aliam aos anunciantes. A verdade aparece, é uma questão de tempo, pois os interesses dos financiadores não são os dos leitores. Não se sustentam. “Cientistas por encomenda” ficam felizes por algum tempo, até serem trocados. Nada se cria, tudo se transforma. Muito ruim que isso ainda aconteça.
É claro que os editores podem ser demitidos como qualquer outro profissional, assim como escritores têm que buscar a disseminação da ciência e não meramente sua preservação.
Daí a importância da imprensa no debate científico. Sites e blogs, com curadoria científica, tem oferecido um contraponto à falta de espaço, censura e poder econômico.
Viva a informação médica com liberdade, fraternidade e humanidade! Viva a imprensa livre!
Alfredo Guarischi
Excelente artigo. Define
No dia em que o Médico deixar de lado sua função Social e Política, pois serve a toda a População, indiscriminadamente, deixará de ser Médico.
É nessa hora que o Juramento de Hipócrates mostra não sua atualidade, mas sua imortalidade.