Quanto que os médicos são pressionados a se tornarem cada vez mais profissionais neoliberais, prestadores de serviços técnicos e menos cuidadores? E se conseguem resolver agravos à saúde, não parecem tão bem sucedidos diante das aflições dos pacientes ao entrar em contato com o sistema de saúde vigente e suas vicissitudes. Há uma margem não desprezível de más práticas em graus variáveis passíveis de afetar aos clientes (cada vez menos pacientes). Inclusive, há elementos que indicam a influência de contingências relacionadas à forma de pagamento dos serviços. Quanto será que o contexto do neoliberalismo sustentável afeta as práticas médicas e criam oportunidades para as manifestações iatrogênicas tanto das precariedades dos excessos como do excesso de precariedades?
Há hoje no campo médico uma perspectiva de gestão gerencialista mediante protocolos que transformam os médicos em aplicadores protocolares. Por sua vez, estes se tornam passíveis de monitoração dos atos médicos. Inclusive, para otimizar a relação entre custos (malefícios) e ganhos (às vezes benefícios para pacientes…) pelos gestores, ensejando uma medicina baseada em valor – para além das evidências… Este modo de pensar conduz a uma dinâmica de políticas de redução dos danos (e dos custos) através de medidas de controle técnico para a saúde/segurança. Elas supostamente pretendem proteger pacientes diante da imprevisibilidade do futuro. Sem um diagnóstico mínima e razoavelmente consensual (se é que isto é viável) do que seja este presente com suas distorções, eventualmente afetadas por aspectos cínicos. Em síntese, este é o âmbito de questões que o Observatório da Medicina pretende tratar.
Luis Castiel