A grande disputa entre os principais dois atores da saúde suplementar, que veio a público recentemente é uma oportunidade ímpar para compreender onde foi parar o cuidado médico.
De um lado temos o provedor de atendimento, que anuncia estar a sua prática toda baseada na melhor literatura médica, ou seja em trabalhos construídos sobre evidências científicas, o que é verdade. Por essa orientação, esse grupo se propõe a realizar todos os protocolos indicados pelas sociedades especialistas, tecendo minucioso escrutínio de qualquer sintoma ou sinal do paciente e apresentando soluções cirúrgicas, ou farmacológicas.
Em oposição, o pagador alega com pertinência, que já está comprovado que o sobrediagnóstico e o sobretratamento é uma resultante considerável dessa prática, colocando em risco a vida do paciente e o pior, transformando a medicina em algo lmpagável.
Ambos tem ótimos argumentos a seu favor, mas o que chama mais a atenção é o fato de serem mutuamente dependentes e nunca viverem um sem o outro. A promessa de atender ao apego inegociável à qualquer tipo de vida é o que os sustenta. Um se utiliza dessa promessa para vender o plano de saúde e o outro para escanear o fio de cabelo em busca de expressão genotipica, sem correspondência no fenótipo, ou a forma eufemística de dizer que há doença assintomática e assim tambem obter seu lucro.
Você que leu até aqui conclui então que é fácil resolver esse impasse. O caminho do meio, como sempre, o mais equilibrado e que favorece a todos. Errado, esse é o grande pesadelo de ambos, pois esse meio é uma área nebulosa, não exatamente mensurável e consequentemente ambos perdem o controle, o que é apavorante para qualquer organização comercial.
Só para completar, é exatamente nesse “meio” que o paciente é plenamente atendido, sem que seja explorado como mero portador de doença com capacidade de mobilizar dinheiro, ou excluído por elevar custos.