Pelas lentes de Sérgio Rego

Fonte: YouTube/CEENSP

Desde o advento da medicina científica o processo de formação médica já passou por várias transformações. É claro que suas mudanças ocorrem sempre depois de mudanças significativas na prática médica, na organização do trabalho médico ou mesmo no modelo econômico no qual esses profissionais estarão inseridos. Ser reativo a mudanças é compreensível, mas talvez necessitemos ser um pouco mais reflexivos para que possamos diminuir o tempo entre essas mudanças. No século passado nós tivemos a institucionalização do hospital como local de formação e de prática médica, a intensa divisão técnica (vertical e horizontal) do trabalho em saúde com o surgimento de incontáveis especialidades médicas, bem como o surgimento de novas profissões neste campo, mas tivemos também o esforço de incorporação da compreensão dos determinantes sociais do processo saúde-enfermidade na formação e na prática médica. O hospital ampliou extraordinariamente não apenas a “maleta de instrumentos médicos” como também passou a ser a referência principal do processo de cuidar. Entretanto, mais para o último quarto do século passado começa a revolução da atenção primária em saúde e as escolas médicas também passam a procurar novos campos de prática e de ensino. O “como” ensinar medicina também passou a ser questionado, e novos modelos de ensino e técnicas passaram a ser incorporadas intensamente nos processos de formação. A virada do século para o XXI trouxe o coroamento da massiva incorporação tecnológica nas práticas em saúde e a cada vez mais presente adoção da Inteligência Artificial nos processos diagnósticos e terapêuticos. Recentemente uma grande empresa do ramo da microinformática criou uma escola médica nos EUA. E nós aqui no Brasil? Como vemos a formação médica se transformando para lidar com esses novos paradigmas? Estamos preparados para formar médicos que lidarão massiva e intensamente com a IA e a robótica? Será que o modelo de ensino ancorado no PBL é o melhor modelo para essa formação? Será que nossos processos seletivos são sensíveis na identificação dos melhores alunos para esse perfil profissional? Nossas escolas médicas estão atentas? Nossos docentes compreendem essa transformação que se avizinha? Se em breve teremos Inteligência Artificial que provavelmente será muito mais eficiente que os humanos para firmar diagnósticos e prognósticos, o que os médicos do futuro farão? Nossas habilidades de comunicação estão sendo adequadamente trabalhadas? Nossa capacidade de tomar decisões junto com os pacientes está sendo promovida, ou ainda insistimos em um arcaico modelo paternalista?

O grupo do Observatório da Medicina se propõe a trazer esses temas para  a reflexão e o debate.

 

Sérgio Rego

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